Pelo Pós-Crítica
Prof. Dr. Ari Lima
(Docente do Pós-Crítica/UNEB)
Foi-se o tempo em que um intelectual era uma espécie de
pessoa humana de vasta formação livresca, capaz de se debruçar e responder às questões
fundamentais da humanidade ou a problemas ordinários do cotidiano sempre com o
mesmo grau de serenidade e persuasão. Ou seja, em um mundo consciente
infinitamente menor, mais facilmente demarcado pelos parâmetros científicos e
filosóficos, a voz, o pensamento, o texto de um intelectual era uma espécie de
tábula rasa.
Para o bem e para o mal, contemporaneamente, o mundo nos
parece muitíssimo mais complexo e vasto de tal modo que sujeitos e modos de
conhecimento antes desconhecidos ou subsumidos pretendem se apresentar, ao
invés de serem representados, em circuitos de voz, pensamento e texto
inimagináveis. Sendo assim, o mais erudito intelectual não tem resposta para
tudo até porque não lhe será possível acumular experiência livresca e cotidiana
dos inumeráveis textos hoje disponíveis, em inumeráveis línguas e linguagens.
Do mesmo modo, não lhe será possível ser dotado da voz e do
pensamento de tantos sujeitos emergentes através de processos vitais autônomos e
imponderáveis à prática do conhecimento acadêmico. A meu ver, o Programa de
Pós-Graduação em Crítica Cultural, em seus dez anos de existência, embora seja
regulado por critérios acadêmicos e de avaliação do campo disciplinar das
Letras e Literatura — sobretudo livresca, porque há também o que temos definido
como literaturas orais — tem feito um esforço de modo a compartilhar um
conhecimento acadêmico universalmente disseminado e ao mesmo tempo instituir no
contexto acadêmico-universitário sujeitos, vozes e pensamentos inusitados e,
por completo, indecifráveis.
Neste sentido, a meu ver, tem afirmado muito menos
resultados ou reflexões definitivas e muito mais disposição ao debate sobre
aquilo que parece nos dizer respeito a todos e àquilo que parece ser muito
particular. Não é uma tarefa fácil nem fluida. Sendo assim, em algumas vezes,
me parece, acertamos mais, em outras, acertamos menos, e em outras ainda,
teríamos incorrido em erros ou distorções de descrição, de compreensão e de
avaliação da realidade social e dos seus problemas variados. Ou seja, para a
surpresa de muitos que duvidaram do potencial crítico de um programa de
pós-graduação instalado em uma universidade modesta, embora de grande potencial
insuficientemente explorado, temos feito ciência assim como temos incorporado
saberes à universidade. Temos praticado e transmitido o que se compreende como
espírito científico assim como temos, pouco a pouco, aprendido a observar,
perguntar e responder às questões fundamentais da humanidade e a problemas
ordinários do cotidiano desde de pontos de vistas que podem parecer sem método,
sem aparato teórico, sem direção. Os próximos dez anos serão tempo de
amadurecer e sistematizar ainda melhor nossa trajetória, superando o aparente
caos e a desesperança moral e política nacional que também nos acomete.
Vida longa ao Pós-Crítica!
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