quinta-feira, 29 de agosto de 2019


Pelo Pós-Crítica


Prof. Dr. Ari Lima

(Docente do Pós-Crítica/UNEB)



Foi-se o tempo em que um intelectual era uma espécie de pessoa humana de vasta formação livresca, capaz de se debruçar e responder às questões fundamentais da humanidade ou a problemas ordinários do cotidiano sempre com o mesmo grau de serenidade e persuasão. Ou seja, em um mundo consciente infinitamente menor, mais facilmente demarcado pelos parâmetros científicos e filosóficos, a voz, o pensamento, o texto de um intelectual era uma espécie de tábula rasa.

Para o bem e para o mal, contemporaneamente, o mundo nos parece muitíssimo mais complexo e vasto de tal modo que sujeitos e modos de conhecimento antes desconhecidos ou subsumidos pretendem se apresentar, ao invés de serem representados, em circuitos de voz, pensamento e texto inimagináveis. Sendo assim, o mais erudito intelectual não tem resposta para tudo até porque não lhe será possível acumular experiência livresca e cotidiana dos inumeráveis textos hoje disponíveis, em inumeráveis línguas e linguagens.

Do mesmo modo, não lhe será possível ser dotado da voz e do pensamento de tantos sujeitos emergentes através de processos vitais autônomos e imponderáveis à prática do conhecimento acadêmico. A meu ver, o Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural, em seus dez anos de existência, embora seja regulado por critérios acadêmicos e de avaliação do campo disciplinar das Letras e Literatura — sobretudo livresca, porque há também o que temos definido como literaturas orais — tem feito um esforço de modo a compartilhar um conhecimento acadêmico universalmente disseminado e ao mesmo tempo instituir no contexto acadêmico-universitário sujeitos, vozes e pensamentos inusitados e, por completo, indecifráveis.

Neste sentido, a meu ver, tem afirmado muito menos resultados ou reflexões definitivas e muito mais disposição ao debate sobre aquilo que parece nos dizer respeito a todos e àquilo que parece ser muito particular. Não é uma tarefa fácil nem fluida. Sendo assim, em algumas vezes, me parece, acertamos mais, em outras, acertamos menos, e em outras ainda, teríamos incorrido em erros ou distorções de descrição, de compreensão e de avaliação da realidade social e dos seus problemas variados. Ou seja, para a surpresa de muitos que duvidaram do potencial crítico de um programa de pós-graduação instalado em uma universidade modesta, embora de grande potencial insuficientemente explorado, temos feito ciência assim como temos incorporado saberes à universidade. Temos praticado e transmitido o que se compreende como espírito científico assim como temos, pouco a pouco, aprendido a observar, perguntar e responder às questões fundamentais da humanidade e a problemas ordinários do cotidiano desde de pontos de vistas que podem parecer sem método, sem aparato teórico, sem direção. Os próximos dez anos serão tempo de amadurecer e sistematizar ainda melhor nossa trajetória, superando o aparente caos e a desesperança moral e política nacional que também nos acomete.

Vida longa ao Pós-Crítica!


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