Pulando Cercas
Prof. Dr. Edivaldo Conceição Santos
(Docente de Literatura e Cultura Afro-Brasileira e Africana na UNEB)
Dentre os muitos artefatos
culturais que veiculam poéticas libertárias, pode-se afirmar que o jornal Heteropia, vinculado ao Programa de
Mestrado em Crítica Cultural, sediado na Universidade do Estado da Bahia, Campus
II, organiza-se como uma dessas vozes que rompe radicalmente com o conformismo
engessado de modelos culturais excludentes, praticados na sociedade brasileira
e em outros modelos rançosos de sociedade.
Em textos
veiculados no Heteropia, o operador
textual vozes ganha novos significados e novos sentidos. Aproximando-se assim de
outras tantas vozes tidas como recalcadas e reprimidas, até então não
protagonizadas em determinados mosaicos sociais, inclua-se aí as vozes periféricas.
Entender tais
vozes, significa replicá-las como deveriam ser, em um universo dinâmico,
plural, multicultural, anárquico, necessários à compreensão contemporânea do
mundo, em suas múltiplas feições de quereres que ainda primam e devem primar
por inclusões de várias ordens em nome da vida e da vida real.
Nesse sentido, tais
vozes, ancorados no Programa de Crítica Cultural, ecoam palavras cotidianamente
desmontáveis, a exemplo de subalternidade, rizoma, questionamento, desmonte,
semiologia, entre-lugar, transvalorizar, reinventar, criar, criticar, etc.
Enfim, todas juntas e separadas ganhando novos ecos e asas que plainam em projetos,
nos quais, ciência, estética, política e vida, caminham imbricados em produções
que contemplam novos saberes e, com isso, esvaziando formas antigas, retrógradas,
ainda replicadas pelas elites dominantes na contemporaneidade, plenas de autoritarismos
ancorados em práticas de exclusão.
Com efeito, pode-se,
portanto, visibilizar no Programa de Crítica Cultural uma nova agenda de
saberes cuja produção artística-científica apresenta-se desmontada dos paradigmas
retrógrados e, ao mesmo tempo, encenando outras produções libertárias, aliadas à
reinvenção e reinvenções. Práticas essas, até então, ausentes nas plataformas
dos estudos ditos “avançados”, mas reprodutores e mantenedores dos esquemas
alinhados com o capital da e pela dominação explícita das relações culturais.
Ampliando um pouco
mais sobre essas questões na contemporaneidade, forja-se, em caráter
emergencial, refletirmos também sobre a reinvenção de mecanismos políticos,
sociais, educacionais, jurídicos e outros princípios éticos que sirvam à vida como
forma de reparação de tantos outros modelos implantados e centrados na
exclusão, na perversão e exploração de vários povos do mundo.
Vale ressaltar, nesse
mundo também dito brasileiro, que o homem deixe de ser objeto de subordinação
das classes dominantes, lutando para chegar à condição de ser sujeito, como já
pontuou o educador Paulo Freire.
Nesse sentido, prima-se,
cada vez mais, pelas potências de todas as ditas subalternidades periféricas que
compõem um vasto tecido social dessa e de tantas outras nações.
Portanto, e a favor
de tudo isso, talvez fosse o caso dos heterotopistas alardearem para os quatro
cantos do mundo, como vem fazendo; gritando, bye, bye, arcaísmos, tabuísmos, patriarcalismos,
machismos, homofobismos, misoginismos, desigualdades forjadas pela selvageria
do capital, etc., etc...
Portanto, na
continuação deste exemplo de educação, legitima-se pensar os estudos culturais
como fuga das arapucas, gaiolas e outras jaulas que nos impuseram. Mas, nos é
mais prazeroso, amoroso, nós nos sentirmos livres, cidadãos livres, sujeitos de
nossa própria história. Mesmo porque, ao colocarmos os pés no chão, sentindo os
cheiros da terra em que nascemos, certamente, desejaremos nos retirar em massa do
eterno plano do ideal que as elites nos impuseram, mas sempre visto como
desconfiança, por esses mesmos homens da terra, por terem lhes incutido a
mentira como suas e nossas realizações.
Portanto, no
exercício do Programa, em que todas as linhas de fugas existem, oportunas e necessárias,
os exercícios poéticos de liberdade, escancaram para quem quiser ver, ler, ouvir
e tentar; nesse sentido, termina sendo também um convite para pular muros, até
mesmo, passar por baixo deles, com o objetivo de escapar de toda forma de
obscurantismos, fascismos e cerceamentos que nos impõem, como encena o poema de
Aldo Aquino, poeta de nenhum lugar e de todo lugar.
Pulando a cerca
Gosto...
Muito de muros...
Tão só para
desmontá-los...
Por eles...
E no entorno deles,
migro...
De lá para cá...
De cá para lá...
Quando me dá na
telha...
Quando na telha me
dá...
E todo esse
movimento...
Como se eles não
existissem...
Em minha maquinaria
inventiva...
De desmontar e poemar,
vivo.
Gosto muito dos
muros...
Esses, que nunca
deveriam existir.
Nem aqui, nem ali,
nem acolá...
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