domingo, 18 de agosto de 2019

Minha Guerrilha Cultural é com a Palavra


Minha Guerrilha Cultural é com a Palavra

Prof. Dr. Paulo César García
(Docente do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural)

“Revolução não é um evento único” (Audre Lorde).

Parafraseando Audre Lorde: Revolução é um evento múltiplo reportado pela ação da palavra. Com ela aciono a revolu[a]ção frente aos muitos e muitas dos/das predecessores autores e autoras da literatura, da crítica literária, de pensadores que me aproximo para buscar diálogos fecundos. Com eles e elas, aciono poder disseminar linguagens, sem ordens, sem o ordinário signo, sem cêntricos sentidos.

Onde falo aqui? Sem o gesto de [se/me] aprisionar como Professor e Pesquisador, não [se/me] apequenando ao nivelamento e ausência de massa crítica e, seguindo Nietzsche, mesmo que sugira em seus textos a noção de o homem aprisionar a vida, faz-se preciso livrar-se do homem para liberar a vida, com “a resistência”, invocando “o poder da vida, bem como de suas múltiplas forças” (PELBART, 2000, p. 33).

Aqui, o que falo e como falo bate à porta o poder de resistências com a força de [se/me] subjetivar agenciada pela política e vida agora coesas, sem acúmulos de controle, servidão, subjunção. Por onde a crítica cultural bate à porta? Onde a força subjetiva torna-se potente, tendo em vista a revolu[a]ção entre pessoas, entre docentes e discentes do Pós-Crítica?

Trato de ser capaz de produzir um tecido que dobre as diferenças, estando estas possíveis para pensar as operantes formas de expressar a si, de expressar sem polaridades e em lugares dos possíveis retratos da vida e de sujeitos. Proporciona-me adentrar no habitat de conhecimentos onde “ondas, fluxos, uma multiplicidade de componentes fluidos, turbulências moleculares, flutuações, evanescências” (PELBART, 2000, p. 32) criam relações a si, relações de prazeres, relações de afetos que se redobram na singularidade da produção de subjetividades.

O ato de reabilitar o conhecimento pelas portas da crítica cultural, institucionalmente programado a formar sujeitos a se reinventar pelo suporte de pesquisas, é o modo de singularizar, de me singularizar no exercício de pesquisar e estar Pesquisador. Eis o requisito de a relação com o outro, melhor, o que dobra e redobra na instância da linguagem que, desvelada por agentes sempre curvados pela dobra e desdobra deleuziana, move modos de refletir, modos de existir.

Daí o conjunto de forças que se deslocam e se disseminam em imagens, textos, signos, palavras, na flexão subjetiva que se cria na força ativa que se ondula no espaço e se recria, tornado-[me/se] sujeitos de saberes, com poderes e vida, potência e existências brotando. Assim, todas e todos se afetam, criam relações alimentadas por desejos, distantes e próximas, cujas práticas de si se novelam numa poética que ecoa na propriedade do óbvio e do clausulo, da evidência e do inesperado, do oculto e dos estranhamentos, do real e do imaginário. Entre todas as dobras da linguagem, a subjetividade se reinventa, se produz na zona do fora com os experimentos das presenças e ausências exteriores.

Minha Guerrilha Cultural é com a palavra. Assim me dobro, vergo forças com palavras-chave que apresento — corpos e subjetividades, sexualidades dissidentes, identidades de gêneros, queer, literatura, crítica literária, ficção, poesia, dramaturgia, outras textualidades, teoria literária, literatura comparada, letras, crítica cultural — daí exteriorizo saberes, autorizo outras linguagens sem reinos instituídos. É por onde me permito e abro as portas para outras falas potentes, possíveis, compreensíveis.

Este relato presta e honra homenagem aos dez anos do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural — mestrado e, agora em 2019, doutorado. No próximo ano, dez anos fará em que ocupo o meu lugar enquanto crítico cultural e comprometido como Professor e Pesquisador. Trabalho que objetivo formar Mestres e Mestras em crítica cultural e que virá na tarefa de formar outras e outros, também, Doutoras e Doutores que procurem nutrir com os estudos de gêneros e de sexualidades no espaço da literatura e com demais estudos da crítica cultural e literária, causando impactos via a difusão de saberes aí locados, saberes descolonizados com posições e posturas em grau zero e para além das margens.

É preciso resistir, é preciso criar. Reinvenções sempre! Leituras são preciso, Literatura a cada passo de uma revolu[a]ção, porque Letras, Arte e Cultura alimentam a alma e proporcionam se integrar e se reintegrar ao meio social, conduzindo às reflexões de si, ao conhecimento de si, às formas de existir, promovendo direitos universais a ser Mulher, Homem, Preta, Preto, Rico ou Pobre, Travestis ou MulherTrans, HomemTrans ou Queer/Cuir, Lésbica Preta ou não, Pessoas não Binárias, Gays e Gays Pretos, Pretas, Efeminadas, Pessoas Intersexos e mais quem não caibam nas expressões de categorias de gêneros normativas e de raiz biológica.

A cada passo, eventos múltiplos, desnormatizados, desregulados, porque os Corpos devem ser destrancados, livres e as Subjetividades validadas na tarefa de arar, lavrar testemunhos e experiências menos segregadas e mais espelhadas em suas formas dissidentes de agir, de pensar e de vibrar nas e pelas diferenças.

Crítica Cultural para quê? Revolu[a]ção!

Referências:
PELBART, Peter Pál. Subjetividade contemporânea. Políticas de subjetividade. In: Vertigem por um fio. Políticas da subjetividade contemporânea. São Paulo: Iluminuras, 2000, p. 9 a 28.
DELEUZE, Gilles. Entrevista sobre O anti-édipo (com Félix Guattati). In: Conversações. São Paulo: Editora 34, 1992.
LORDE, Audre. Textos escolhidos. Disponível em: <difusionfeminista@riseup.net>. Acesso em: 10 jul. 2015.

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