Minha Guerrilha Cultural é com a Palavra
Prof. Dr. Paulo César García
(Docente do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural)
“Revolução não é um evento único” (Audre Lorde).
Parafraseando Audre
Lorde: Revolução é um evento múltiplo reportado pela ação da palavra. Com ela aciono
a revolu[a]ção frente aos
muitos e muitas dos/das predecessores autores e autoras da literatura, da
crítica literária, de pensadores que me aproximo para buscar diálogos fecundos.
Com eles e elas, aciono poder disseminar linguagens, sem ordens, sem o
ordinário signo, sem cêntricos sentidos.
Onde falo aqui? Sem o
gesto de [se/me] aprisionar como Professor e Pesquisador, não [se/me]
apequenando ao nivelamento e ausência de massa crítica e, seguindo Nietzsche,
mesmo que sugira em seus textos a noção de o homem aprisionar a vida, faz-se
preciso livrar-se do homem para liberar a vida, com “a resistência”, invocando “o
poder da vida, bem como de suas múltiplas forças” (PELBART, 2000, p. 33).
Aqui, o que falo e como
falo bate à porta o poder de resistências com a força de [se/me] subjetivar
agenciada pela política e vida agora coesas, sem acúmulos de controle,
servidão, subjunção. Por onde a crítica cultural bate à porta? Onde a força
subjetiva torna-se potente, tendo em vista a revolu[a]ção entre pessoas, entre
docentes e discentes do Pós-Crítica?
Trato de ser capaz de
produzir um tecido que dobre as diferenças, estando estas possíveis para pensar
as operantes formas de expressar a si, de expressar sem polaridades e em lugares
dos possíveis retratos da vida e de sujeitos. Proporciona-me adentrar no
habitat de conhecimentos onde “ondas, fluxos, uma multiplicidade de componentes
fluidos, turbulências moleculares, flutuações, evanescências” (PELBART, 2000, p. 32) criam relações a
si, relações de prazeres, relações de afetos que se redobram na singularidade
da produção de subjetividades.
O ato de reabilitar o
conhecimento pelas portas da crítica cultural, institucionalmente programado a
formar sujeitos a se reinventar pelo suporte de pesquisas, é o modo de
singularizar, de me singularizar no exercício de pesquisar e estar Pesquisador.
Eis o requisito de a relação com o outro, melhor, o que dobra e redobra na
instância da linguagem que, desvelada por agentes sempre curvados pela dobra e
desdobra deleuziana, move modos de refletir, modos de existir.
Daí o conjunto de forças
que se deslocam e se disseminam em imagens, textos, signos, palavras, na flexão
subjetiva que se cria na força ativa que se ondula no espaço e se recria,
tornado-[me/se] sujeitos de saberes, com poderes e vida, potência e existências
brotando. Assim, todas e todos se afetam, criam relações alimentadas por
desejos, distantes e próximas, cujas práticas de si se novelam numa poética que
ecoa na propriedade do óbvio e do clausulo, da evidência e do inesperado, do
oculto e dos estranhamentos, do real e do imaginário. Entre todas as dobras da
linguagem, a subjetividade se reinventa, se produz na zona do fora com os
experimentos das presenças e ausências exteriores.
Minha Guerrilha Cultural
é com a palavra. Assim me dobro, vergo forças com
palavras-chave que apresento — corpos e subjetividades, sexualidades
dissidentes, identidades de gêneros, queer, literatura, crítica literária,
ficção, poesia, dramaturgia, outras textualidades, teoria literária, literatura
comparada, letras, crítica cultural — daí exteriorizo saberes, autorizo outras
linguagens sem reinos instituídos. É por onde me permito e abro as portas para
outras falas potentes, possíveis, compreensíveis.
Este relato presta e
honra homenagem aos dez anos do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural —
mestrado e, agora em 2019, doutorado. No próximo ano, dez anos fará em que
ocupo o meu lugar enquanto crítico cultural e comprometido como Professor e
Pesquisador. Trabalho que objetivo formar Mestres e Mestras em crítica cultural
e que virá na tarefa de formar outras e outros, também, Doutoras e Doutores que
procurem nutrir com os estudos de gêneros e de sexualidades no espaço da
literatura e com demais estudos da crítica cultural e literária, causando
impactos via a difusão de saberes aí locados, saberes descolonizados com
posições e posturas em grau zero e para além das margens.
É preciso resistir, é
preciso criar. Reinvenções sempre! Leituras são preciso, Literatura a cada
passo de uma revolu[a]ção,
porque Letras, Arte e Cultura alimentam a alma e proporcionam se
integrar e se reintegrar ao meio social, conduzindo às reflexões de si, ao
conhecimento de si, às formas de existir, promovendo direitos universais a ser
Mulher, Homem, Preta, Preto, Rico ou Pobre, Travestis ou MulherTrans,
HomemTrans ou Queer/Cuir, Lésbica Preta ou não, Pessoas não Binárias, Gays e
Gays Pretos, Pretas, Efeminadas, Pessoas Intersexos e mais quem não caibam nas
expressões de categorias de gêneros normativas e de raiz biológica.
A cada passo, eventos
múltiplos, desnormatizados, desregulados, porque os Corpos devem ser
destrancados, livres e as Subjetividades validadas na tarefa de arar, lavrar
testemunhos e experiências menos segregadas e mais espelhadas em suas formas
dissidentes de agir, de pensar e de vibrar nas e pelas diferenças.
Crítica Cultural para
quê? Revolu[a]ção!
Referências:
PELBART, Peter Pál. Subjetividade
contemporânea. Políticas de subjetividade. In: Vertigem por um fio. Políticas da subjetividade contemporânea. São
Paulo: Iluminuras, 2000, p. 9 a 28.
DELEUZE, Gilles. Entrevista sobre O
anti-édipo (com Félix Guattati). In: Conversações.
São Paulo: Editora 34, 1992.
LORDE,
Audre. Textos escolhidos. Disponível
em: <difusionfeminista@riseup.net>. Acesso em: 10 jul. 2015.
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