segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Crítica Cultural é Potência


Crítica Cultural é Potência

Taise Campos dos Santos Pinheiro de Souza
(Mestra em Crítica Cultural/UNEB)


Potência! Esta palavra traduz bem o que o curso de Crítica Cultural significa para mim.

Potência de existir, resistir e de criar…

Criar possibilidades, já que o conhecimento, como aprendi, especialmente através da minha estimada orientadora Jailma Moreira, acontece em meio ao devir, à ambivalência, à terceira margem do rio…

Potência de resistir a interdições e silenciamentos de seres e saberes, como os das escritoras negras, sujeitos de pesquisas, produtoras de discursos…

E potência de existir na singularidade e na diversidade que há em cada ser, que há em mim. No Crítica Cultural descobri a força, a capacidade que me são companheiras, mas que, às vezes, se escondem em meio à timidez; entretanto, ela, a potência, continua ali.

O Pós-Crítica me ensinou que não há paradigmas que não possam ser questionados, desestabilizados. Que o conhecimento não é neutro, mas pode e deve ser politizado.

Ser Crítica Cultural implica em se trabalhar no campo da discursividade de forma produtiva, plurissignificativa, potencializando a literatura, a cultura, as políticas, o texto, a vida e seus contextos, por meio de seus signos e significantes, de suas múltiplas possibilidades de construção, interpretação e ação.

O Pós-Crítica é rizomático, tecido por pontos diferenciais que, apesar de suas singularidades, se tocam, se entrelaçam, formando uma rede de múltiplas possibilidades discursivas e de complexas, belas e intensas relações.

O Crítica Cultural abarca a propriedade do deslocamento, do não fixo, por uma estrutura sempre em movimento, que retalha e, ao mesmo tempo, costura em outros pontos, em identidades e alteridades outras, pensando novas configurações sociais, culturais que abarcam diferentes vozes, formas de subjetividades e modos de produção.

O Crítica Cultural envolve a politização de cada sujeito, de cada coletivo, a emancipação de existências que constroem e reconstroem as malhas da sociedade e da cultura. O Crítica Cultural, em si mesmo, é trabalho, é luta, é vida, é conhecimento, é potência pura!


quinta-feira, 29 de agosto de 2019


Pelo Pós-Crítica


Prof. Dr. Ari Lima

(Docente do Pós-Crítica/UNEB)



Foi-se o tempo em que um intelectual era uma espécie de pessoa humana de vasta formação livresca, capaz de se debruçar e responder às questões fundamentais da humanidade ou a problemas ordinários do cotidiano sempre com o mesmo grau de serenidade e persuasão. Ou seja, em um mundo consciente infinitamente menor, mais facilmente demarcado pelos parâmetros científicos e filosóficos, a voz, o pensamento, o texto de um intelectual era uma espécie de tábula rasa.

Para o bem e para o mal, contemporaneamente, o mundo nos parece muitíssimo mais complexo e vasto de tal modo que sujeitos e modos de conhecimento antes desconhecidos ou subsumidos pretendem se apresentar, ao invés de serem representados, em circuitos de voz, pensamento e texto inimagináveis. Sendo assim, o mais erudito intelectual não tem resposta para tudo até porque não lhe será possível acumular experiência livresca e cotidiana dos inumeráveis textos hoje disponíveis, em inumeráveis línguas e linguagens.

Do mesmo modo, não lhe será possível ser dotado da voz e do pensamento de tantos sujeitos emergentes através de processos vitais autônomos e imponderáveis à prática do conhecimento acadêmico. A meu ver, o Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural, em seus dez anos de existência, embora seja regulado por critérios acadêmicos e de avaliação do campo disciplinar das Letras e Literatura — sobretudo livresca, porque há também o que temos definido como literaturas orais — tem feito um esforço de modo a compartilhar um conhecimento acadêmico universalmente disseminado e ao mesmo tempo instituir no contexto acadêmico-universitário sujeitos, vozes e pensamentos inusitados e, por completo, indecifráveis.

Neste sentido, a meu ver, tem afirmado muito menos resultados ou reflexões definitivas e muito mais disposição ao debate sobre aquilo que parece nos dizer respeito a todos e àquilo que parece ser muito particular. Não é uma tarefa fácil nem fluida. Sendo assim, em algumas vezes, me parece, acertamos mais, em outras, acertamos menos, e em outras ainda, teríamos incorrido em erros ou distorções de descrição, de compreensão e de avaliação da realidade social e dos seus problemas variados. Ou seja, para a surpresa de muitos que duvidaram do potencial crítico de um programa de pós-graduação instalado em uma universidade modesta, embora de grande potencial insuficientemente explorado, temos feito ciência assim como temos incorporado saberes à universidade. Temos praticado e transmitido o que se compreende como espírito científico assim como temos, pouco a pouco, aprendido a observar, perguntar e responder às questões fundamentais da humanidade e a problemas ordinários do cotidiano desde de pontos de vistas que podem parecer sem método, sem aparato teórico, sem direção. Os próximos dez anos serão tempo de amadurecer e sistematizar ainda melhor nossa trajetória, superando o aparente caos e a desesperança moral e política nacional que também nos acomete.

Vida longa ao Pós-Crítica!



Quando a Crítica Abre as Comportas da Memória Cultural


Elizabete Costa Suzart
(Mestranda em Crítica Cultural/UNEB)



No decorrer do VI Encontro de Arte e Cultura, ocorrido em Alagoinhas em 2017, fui convidada para levar representantes do Projeto Portal Tupinambá, localizado no Litoral de Entre Rios, região de Massarandupió. Com o intuito de satisfazer à curiosidade de alunos de uma das instituições de ensino na cidade, trouxe representantes do Povo Kariri-Xocó, de Alagoas, e Fulni-ô, de Pernambuco, para atividades artístico-cultuais, através do seu emblema de identidade étnica, mantida no Toré, que é expresso em forma de danças e cantos voltados à ancestralidade desses povos originários. A apresentação foi estendida até o Centro de Cultura de Alagoinhas. Lá se encontrava não somente um evento regional voltado para a arte e cultura, mas um convite ao diálogo intercultural movido pela tentativa de se estabelecer confrontos com os mecanismos que marginalizam e, portanto, excluem os indivíduos do convívio social, promovidos pela cultura hegemônica que hodiernamente convivem nos espaços institucionais.

Deste convite, houve uma extensão que me trouxe de volta à academia, a mesma instituição onde fui graduada em 1994, FFPA/UNEB (Campus II). Após esses quase vinte e cinco anos fora da instituição, fui atraída pela subjetiva decisão de trazer a minha prática de conscientização nas instituições de ensino acerca da existência de povos indígenas, não somente ao nosso redor, mas por todas as regiões do Brasil, clamando por ter vez e voz ativa no que diz respeito às suas questões de reivindicar suas terras e sua forma de resistência aos séculos de expropriação pela colonização e que nos impelem a uma atitude decolonial. Abrindo um dos livros que poderia também ter sido indicado na bibliografia da seleção para Mestrado em Crítica Cultural, Moreira (Folhas venenosas do discurso, 2002, p. 74) cita Michel Foucault (Os intelectuais e o poder. In: Microfísica do poder, p. 71):

O papel do intelectual não é mais o de colocar “um pouco na frente ou um pouco mais de lado” para dizer a muda verdade de todos; é antes a de lutar contra as formas de poder exatamente onde ele é, ao mesmo tempo, o objeto e o instrumento: na ordem do saber, da “verdade”, da “consciência”, do discurso.

Foi exatamente o seu comentário nesse pé-de-página que me instigou e fez garantir de maneira assertiva que dali por diante seriam abertas as comportas a uma crítica que trouxesse à tona as memórias voltadas para a interpelação de cultura no contexto que me encontrava, a indígena. A reflexão foi dilatada e embora ainda não tivesse atingido a cota sugerida de leituras para os desafios de uma seleção a nível de outra universidade que participei fora do Brasil, anos atrás, já concluía que os condensados textos que resumiram a obra A luta desarmada dos subalternos, me fizeram crer que o caminho era uma reta transversal, paradoxalmente traçado e propício a multiplicidades do pensamento que não deixaria de ser munido de muita imaginação, principalmente de fazer da “língua uma máquina de guerra”, rumo ao multiculturalismo e às possibilidades de perceber o bilinguismo ocultado a este povo que desde o silenciamento de se pronunciar em público, na sua língua nativa, não deixaram de experimentá-la na calada da noite, dentro da mata, através dos seus cantos ancestrais imprecando ao Grande Espírito muito mais que proteção, além de resistência a vigília da sua memória ancestral. Desta forma, sigo com projeto em pesquisa que observo o povo a se fazer não somente ator e autor de sua história, mas de tornar a sua língua nativa a razão de ser e viver a cultura Kariri-Xocó, elevando o bilinguismo a um patamar que produz além de cultura, muito orgulho em ver seus cantos traduzidos e proferidos aos ouvidos do mundo. Esta egrégora mobiliza de maneira sinestésica o universo indígena e todos que dele quer se apropriam.



Quantos Sonhos Cabem em uma Década?


Júlia dos Anjos Costa
(Mestranda em Crítica Cultural/UNEB, turma 2018.1)


Desde criança eu sempre soube que Comunicação seria minha área e jornalismo minha profissão. Idas e vindas da vida, ingressei no curso de Publicidade e Propaganda com bolsa integral do ProUni, na cidade de Feira de Santana, em 2007. Foram anos de percurso diário no trecho Feira x Alagoinhas que me causavam não só o desgaste físico e mental, mas principalmente testavam a força de vontade de uma recém adulta que buscava a realização de um sonho. Posteriormente, me mudei para Feira no intuito de concluir os estudos e construir uma carreira na área. Experiências vividas, conhecimento adquirido, diploma conquistado em 2011: reviravoltas que independiam da minha vontade me fizeram retornar para Alagoinhas em 2013.

De volta à minha terra, deparei-me com as adversidades de uma cidade do interior que ainda engatinhava vagarosamente na comunicação. A ausência de recursos e oportunidades de trabalho me fizeram acreditar, por muito tempo, que tanto investimento material e emocional na graduação foi em vão. Buscando meios de sobreviver, me aventurei como professora de reforço escolar para crianças e adolescentes durante quatro anos, dividindo-me entre a prestação de serviços como instrutora no Senai. Foi aí que me descobri professora e entendi qual seria verdadeiramente minha profissão.

Em 2017, Fabiane Guimarães, uma amiga de longa data de Feira de Santana foi aprovada no Pós-Crítica e imediatamente se tornou companheira de discussões sociais, políticas e filosóficas do café da manhã até altas madrugadas. Dividimos o mesmo teto por dois anos, sendo a responsável por me mostrar que, assim como ela, eu também poderia ingressar no mestrado, pois o curso, em suas palavras “tinha tudo a ver comigo”. Meio desacreditada da conquista e sem me julgar capaz de alcançá-la, me inscrevi como aluna especial na disciplina Tradição Oral e Cultura Popular, com Katharina Doring. Não acreditei quando o resultado foi divulgado, até finalmente me dar conta que a possibilidade de cursar um mestrado na UNEB era real. No semestre seguinte, me inscrevi em outra disciplina, desta vez Linguagens e Sala de aula, com Nazaré Lima e Lícia Maria. Me senti cada vez mais encorajada por elas, por minha amiga e pelos colegas, a tentar a seleção de aluno regular no fim do mesmo ano, paralelamente à conclusão da disciplina.

O longo e árduo processo, iniciado já na construção do projeto exigido para inscrição, me mostrou, desde o início, que o caminho não seria fácil. Nos dois últimos meses do ano, a ansiedade me dominava de tal modo que adoeci, não conseguia comer e emagreci drasticamente. Conseguir ser aprovada na seleção após seis anos de conclusão da graduação não era somente questão de vontade, era questão de ter a chance de um recomeço após anos de autodepreciação e descrença profissional.

Quando o resultado foi divulgado, em meados de dezembro de 2017, milagrosamente as dores de estômago e falta de ar constantes sumiram. Nenhum médico foi capaz de diagnosticar que meu problema era ânsia de viver tudo que eu queria, que eu podia e que eu merecia. Ingressei oficialmente na turma de 2018.1 e atualmente vivo outro processo, ansiosa pela conclusão do curso, principalmente no contexto político, social e econômico que estamos vivendo, rodeados de ignorância e opressão que eu, aos 31 anos, nunca imaginei que veria de perto.

Mais do que um curso de mestrado no interior da Bahia, o Pós-Crítica mudou significativamente minha trajetória de vida, não somente pelo incomensurável aprendizado, elevação do pensamento crítico e por ter me aproximado do feminismo com toda insurgência que sempre carreguei. Cursar o mestrado me mudou, principalmente pelas relações humanas construídas e toda transformação que estas possibilitaram. Porque de nada adianta alcançar níveis intelectuais julgados como excelentes e admiráveis, ter um Lattes recheado de publicações e congressos, títulos e mais títulos acadêmicos se esquecermos que a vida é feita da matéria humana, é feita de gente. E o aprendizado que cada indivíduo nos provoca (e que nós provocamos), independente de ter nos feito mal ou bem, nenhum diploma pode oferecer.

Em 2007 entrei na graduação. Em 2017, comecei a caminhar no Pós-Crítica. Respondendo a pergunta inicial “quantos sonhos cabem em uma década?”, respondo: parei de contar quando aprendi que somos feitos de ciclos intermináveis, onde muitas vezes temos que mudar de rumo e construir novos sonhos. Às vezes sozinhos, às vezes ao lado de pessoas que incentivam, acreditam e torcem por nós.

Posso parabenizar o Pós-Crítica pelos 10 anos de existência? Posso. Mas prefiro agradecer aos colegxs, amigxs, professorxs, orientadora, funcionárixs, alunxs do tirocínio e demais pessoas envolvidas que direta ou indiretamente cruzaram meu caminho e, de algum modo, contribuíram para que muitos sonhos fossem possíveis. Muito obrigada!


Um (Re)Tornar-Ser Crítico Cultural


Eider Ferreira Santos
(Mestre em Crítica Cultural/UNEB) 


Nestes 10 anos de existência do Programa de Pós-Graduação em Crítica Cultural intenciono, por meio destas linhas, materializar minha memória do vivido nesse ambiente de intensa produção; por isso, um (RE)TORNAR-SER enquanto duplo sentido do retorno e do SER, pois é no fio da memória que nos tecemos. A princípio é preciso considerar que o SER crítico cultural não está posto como concluso, mas em construção, pois é desse modo que me foi apresentado.

Ser crítico cultural é estar em devir, em ser, em tornar-se. Isso me faz recordar a não existência de verdade absoluta, concluída, maior ou menor, mas que existem versões; existem possibilidades, existem rizomas que levam a diversos caminhos. Foi justamente esse pensamento crítico cultural que me fez crítico cultural em processo, em (re)tornar-ser. E para tornar-se é preciso retornar.

Retorno aos momentos de intensas discussões teórico-epistemológicas nos diferentes laboratórios de pensamento crítico, seja através da Metodologia em Crítica Cultural nos seus desmontes dos métodos, do retorno ao cotidiano; das Políticas da Subjetividade, nos lembrando a subjetividade como lugar de manifestação dos conhecimentos, da valorização das narrativas de si; das Teorias e Críticas da Cultura com seu hibridismo e pluriculturalismo; da Literatura, Cultura e Modos de Produção com a produção da vida e da existência como outra alternativa; da Literatura Afro-Brasileira e Africana pensando a resistência do negro da na arte e na vida. Retorno à Fábrica de Letras, em seu período nascente, enquanto convite à difusão do conhecimento, editando, reeditando, democratizando as pesquisas; retorno a WebRádio Pós-Crítica, como lugar de transcendência do conhecimento; retorno aos Seminários Entrelinhas, lugar do debate e crescimento. Retorno à produção científica, notadamente a escrita da dissertação, me lembrando a potência da palavra, da língua, da pesquisa enquanto lugar de resistência. Retorno à minha Defesa de Dissertação, ocorrida na escola onde cursei o ensino médio, momento pós-crítico que só esse programa poderia me proporcionar: pesquisa de mestrado assistida e ouvida por alunos, professores, funcionários, comunidade, familiares.

É, pois, esse retornar que me torna crítico cultural, agora inserido no mundo, no mundo do trabalho, no mundo da escola, no mundo das interações sociais, como presença resistente, tendo as letras, o discurso, a literatura, a língua como arma de luta.

Por tudo isso, obrigado Pós-Crítica! Vida longa e produtiva!


sábado, 24 de agosto de 2019

Pós-Crítica, 10 Anos: meu Devir Estudante-Pesquisadora

Elizia de Souza Alcântara
(Mestra em Crítica Cultural/UNEB;
Doutoranda em Cultura e Arte/IHAC/Programa Multidisciplinar/UFBA)


Minhas Andanças! [Um Memorial em Quadrinhos]







Pós-Crítica, 10 Anos: meu Devir Estudante-Pesquisadora

Elizia de Souza Alcântara
(Mestra em Crítica Cultural/UNEB;
Doutoranda em Cultura e Arte/IHAC/Programa Multidisciplinar/UFBA)


Porque escrever é já organizar o mundo, é já pensar...
É, pois, inútil pedir ao outro que se re-escreva,
se não está disposto a re-pensar-se” (Roland Barthes).


Abro o meu texto com o memorial apresentado ao Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade/IHAC/UFBA na qualificação do doutorado ocorrida em 8 de dezembro de 2018. Nas minhas memórias afetivas, a Universidade Estadual da Bahia (UNEB) sempre esteve presente e, especificamente no mestrado em Crítica Cultural, construí novas andanças, experimentei (re)encontros, (des)montei concepções, operei com releituras, potencializei o que estava “adormecido” (o desejo de (re)viver a universidade, de voltar a ler, escrever, problematizar, “desconfiar” das cenas contemporâneas, etc.) e, assim, o meu devir estudante-pesquisadora tomou fôlego, intensificou-se. Por isso, tenho orgulho (em tempos difíceis, de precariedade da vida e das barbáries) de afirmar: sou unebiana! Sou pós-crítica! Sou devires!

A emoção toma conta de mim. As vivências. Os encontros. Os conflitos. Os medos. Os desafios. As conquistas. Passa um filme na minha cabeça. Cenas marcantes. Inesquecíveis. Potentes. Pulsantes. Algumas delas, aqui, testemunhas do que foi (con)viver na comunidade pós-crítica.

Cena 1: Já tinha concluído a especialização em Estudos Literários e, por algumas vezes, visitava o Campus da UNEB, em Alagoinhas. Numa dessas visitas, reencontro Osmar (o “cara” que me motivou, me “desorientou”) e ele diz? O que tem feito? Repondo: dando aula (em Pojuca e na rede estadual) e também atuando como coordenadora sindical (APLB/núcleo). Por que não vem fazer o mestrado em Crítica Cultural? O movimento sindical é uma possibilidade de investigação acadêmica. Daí, a ideia/sugestão ficou “martelando” por muito tempo. Até que disse: vou tentar... Não enveredei pelo movimento sindical. Abracei o estudo e a análise dos Quadrinhos (Nona Arte). Devir mestra, presente!

Cena 2: Como aluna especial, tive o prazer (que prazer!!!) de reencontrar Jailma e conhecer Anória (presente de afeto e acolhimento!). O abraçamento nos encontros com Jailma me rendeu um crescimento fantástico! De saberes. De motivação. De afirmação da vida. De nada adianta re(x)istir e “perder” o afeto. É reexistir com afetos, mesmo que uns não queiram. E Anória? Minha e nossa Anória! No Seminário Interlinhas, ouvi dela: “pesquisar não é procurar cabelo em ovo”... E foi depois dessa fala que “nasceu” o meu problema de pesquisa. Obrigada, Jailma! Obrigada, Anória! Devir pesquisadora, presente!

Cena 3: A acolhida da minha turma de 2013. Cheguei ao mestrado com algumas dificuldades (fiquei um bom tempo afastada do ambiente acadêmico e das propostas de produção textual) e, para experimentar o período de creditação dos componentes curriculares, tive parcerias decisivas, como as presenças das amigas Evanildes e Gislene. Sim! Elas verdadeiramente me “adotaram” durante todo o curso! Estudávamos juntas. Trocávamos dúvidas. Pesquisávamos. Uma acolhia a outra em todos os momentos (nos conflitos também!!!). Artigo. Resumo. Resumo expandido. Regras da ABNT. Estrutura da dissertação… Da teoria à escuta sensível! Amizades no Pós-Crítica, presenças! A todos e todas: valeu!!!! Obrigada!

Cena 3: Minhas professoras, meus professores do Pós-Crítica: parcelas de saberes, de responsabilidade social, de resistência, de lutas que trago comigo nos espaços públicos e/ou privados por onde transito. Obrigada! Arivaldo Lima: seriedade e compromisso. Carlos Magno: festa de saberes e motivação. José Carlos Félix: sensibilidade e segurança. Paulo César Garcia: desafios e responsabilidade. Washington Drummond: enfrentamentos e resistências. Roberto Seidel (professor e orientador): leveza e calmaria. Edil Costa (no papel de coordenadora ): coragem e compromisso. Osmar Moreira: (des)orientador e revolução. Os rizomas do fazer acadêmico, presentes! Presenças!

Cena 4: Secretaria do Pós-Crítica, funcionárias e funcionários: colaboradores sérios e comprometidos. Obrigada, a todos, todas!!! Ad (Adnailsa): sensibilidade e acolhimento. Maiara: alegrias e solidariedade. Bruna: afetos e disponibilidade. Apoiadores e apoiadoras do Pós-Crítica, presenças!

Minha cenas agora:
Universidade Federal da Bahia: encontro-me na fase da pesquisa orientada. Mantenho o mesmo objeto de pesquisa do mestrado em Crítica Cultural: a Turma do Xaxado, do nosso quadrinista Antonio Cedraz com o seguinte título: Da gramática dos quadrinhos à performance poética de Antonio Cedraz: narrativas, vozes e discursos. Defesa final prevista para o dia 4 de julho de 2020.
Rede Municipal de Ensino Pojuca/Bahia: em licença para curso de pós-graduação.
Rede Estadual de Ensino /Pojuca/Bahia: com carga horária de 20 horas, trabalho com turmas de Ensino Médio, nos componentes curriculares: Língua Portuguesa, Práticas Integradoras e Sociologia.

Na vida:
Repensando-me.
Reescrevendo-me.
Obrigada, Pós-Crítica!



Canto de Voar


Marluce Freitas de Santana
(Mestra em Crítica Cultural/UNEB, turma 2014; Docente da UNEB)


Imaginem vocês!
uma transa arretada,
daquelas que deixa a gente arriada,
mas nunca saciada
de tanto amor pra amar!

Imaginem outra cena
da tecelã inconformada
com o resultado da sua arte,
destecendo com vontade
pra outra tessitura criar!

Imaginem uma história
de quem recorta da memória
experiências (re)existentes,
ressignificadas, renascentes
de um casulo dormente,
num pós-tempo acreditar.

Pois foi assim que um dia,
estava eu acomodada,
meio sem lume, sem mirada
feito lagarta a rastejar...
mas naquela letargia
eu pensava — que bom seria,
se criasse asas e a mania de voar, voar, voar!

Viajaria por toda parte,
quem sabe iria até Marte,
ao infinito, ou coisa assim!
Mas como uma mulher conseguiria?
sendo avó, mãe, esposa, professora, e tia,
experimentar essa alquimia
e do casulo voar, voar sem fim?

Esta busca inquietante
me levou a uma constante
necessidade de desbordar,
E, desbordando as últimas trilhas,
procurava alternativas
pro desejo de reinventar.

Foi aí que uma hermana,
conhecendo minha gana
de vontade de voar,
trouxe-me a feliz notícia
de um programa Pós-Crítica,
experiência singular.

Uma janela potente
para os estudos da gente
que escolheu na cultura
objeto pra estudar.

Foi aí que achei o húmus,
a sintonia, o rumo
e com a cabeça em prumo
nas letras evaristianas mergulhei,
desvendando sua escrita
“Literafrofeminista”
subversão biopolítica,
nesse universo me encontrei.

Foi poiésis, aventura,
escrevivências, tessituras,
deslocamentos...
que loucura!
no meio da roda vi dançar,
todas as minhas certezas
e nessa dança — que beleza!
minhas crenças? com certeza,
foram de pernas para o ar.

No combate às desigualdades
e qualquer subalternidade
o papel da universidade
é estratégico, eu sei.
Nesse sentido, o Pós-Crítica,
por sua estratégia política,
se destaca e se qualifica
agente de transformação social.

Nesses 10 anos de existência
e notória relevância
se comprova a importância da Crítica Cultural,
que toma o campo linguístico,
literário e artístico para o desmonte dos nichos de poder colonial.

E por isto, neste momento,
cheixs de contentamento
temos muito a festejar.
Parabenizar os/as docentes
por dedicarem-se presentes
a esta consolidação;
e também aos estudantes,
egressos, atuais e visitantes,
por todo sucesso desse instante
e de muitos anos que virão.