Quantos Sonhos Cabem em uma Década?
Júlia dos Anjos Costa
(Mestranda em Crítica
Cultural/UNEB, turma 2018.1)
Desde criança eu sempre soube que Comunicação seria minha
área e jornalismo minha profissão. Idas e vindas da vida, ingressei no curso de
Publicidade e Propaganda com bolsa integral do ProUni, na cidade de Feira de
Santana, em 2007. Foram anos de percurso diário no trecho Feira x Alagoinhas
que me causavam não só o desgaste físico e mental, mas principalmente testavam
a força de vontade de uma recém adulta que buscava a realização de um sonho.
Posteriormente, me mudei para Feira no intuito de concluir os estudos e
construir uma carreira na área. Experiências vividas, conhecimento adquirido,
diploma conquistado em 2011: reviravoltas que independiam da minha vontade me
fizeram retornar para Alagoinhas em 2013.
De volta à minha terra, deparei-me com as adversidades de uma cidade do
interior que ainda engatinhava vagarosamente na comunicação. A ausência de
recursos e oportunidades de trabalho me fizeram acreditar, por muito tempo, que
tanto investimento material e emocional na graduação foi em vão. Buscando meios
de sobreviver, me aventurei como professora de reforço escolar para crianças e
adolescentes durante quatro anos, dividindo-me entre a prestação de serviços
como instrutora no Senai. Foi aí que me descobri professora e entendi qual
seria verdadeiramente minha profissão.
Em 2017, Fabiane Guimarães, uma amiga de longa data de Feira de Santana
foi aprovada no Pós-Crítica e imediatamente se tornou companheira de discussões
sociais, políticas e filosóficas do café da manhã até altas madrugadas.
Dividimos o mesmo teto por dois anos, sendo a responsável por me mostrar que,
assim como ela, eu também poderia ingressar no mestrado, pois o curso, em suas
palavras “tinha tudo a ver comigo”. Meio desacreditada da conquista e sem me
julgar capaz de alcançá-la, me inscrevi como aluna especial na disciplina
Tradição Oral e Cultura Popular, com Katharina Doring. Não acreditei quando o
resultado foi divulgado, até finalmente me dar conta que a possibilidade de
cursar um mestrado na UNEB era real. No semestre seguinte, me inscrevi em outra
disciplina, desta vez Linguagens e Sala de aula, com Nazaré Lima e Lícia Maria.
Me senti cada vez mais encorajada por elas, por minha amiga e pelos colegas, a
tentar a seleção de aluno regular no fim do mesmo ano, paralelamente à
conclusão da disciplina.
O longo e árduo processo, iniciado já na construção do projeto exigido
para inscrição, me mostrou, desde o início, que o caminho não seria fácil. Nos
dois últimos meses do ano, a ansiedade me dominava de tal modo que adoeci, não
conseguia comer e emagreci drasticamente. Conseguir ser aprovada na seleção
após seis anos de conclusão da graduação não era somente questão de vontade,
era questão de ter a chance de um recomeço após anos de autodepreciação e
descrença profissional.
Quando o resultado foi divulgado, em meados de dezembro de 2017,
milagrosamente as dores de estômago e falta de ar constantes sumiram. Nenhum
médico foi capaz de diagnosticar que meu problema era ânsia de viver tudo que
eu queria, que eu podia e que eu merecia. Ingressei oficialmente na turma de
2018.1 e atualmente vivo outro processo, ansiosa pela conclusão do curso,
principalmente no contexto político, social e econômico que estamos vivendo,
rodeados de ignorância e opressão que eu, aos 31 anos, nunca imaginei que veria
de perto.
Mais do que um curso de mestrado no interior da Bahia, o Pós-Crítica mudou
significativamente minha trajetória de vida, não somente pelo incomensurável
aprendizado, elevação do pensamento crítico e por ter me aproximado do
feminismo com toda insurgência que sempre carreguei. Cursar o mestrado me
mudou, principalmente pelas relações humanas construídas e toda transformação
que estas possibilitaram. Porque de nada adianta alcançar níveis intelectuais
julgados como excelentes e admiráveis, ter um Lattes recheado de publicações e
congressos, títulos e mais títulos acadêmicos se esquecermos que a vida é feita
da matéria humana, é feita de gente. E o aprendizado que cada indivíduo nos
provoca (e que nós provocamos), independente de ter nos feito mal ou bem,
nenhum diploma pode oferecer.
Em 2007 entrei na graduação. Em 2017, comecei a caminhar no Pós-Crítica.
Respondendo a pergunta inicial “quantos sonhos cabem em uma década?”, respondo:
parei de contar quando aprendi que somos feitos de ciclos intermináveis, onde
muitas vezes temos que mudar de rumo e construir novos sonhos. Às vezes
sozinhos, às vezes ao lado de pessoas que incentivam, acreditam e torcem por
nós.
Posso parabenizar o Pós-Crítica pelos 10 anos de existência? Posso. Mas
prefiro agradecer aos colegxs, amigxs, professorxs, orientadora, funcionárixs,
alunxs do tirocínio e demais pessoas envolvidas que direta ou indiretamente
cruzaram meu caminho e, de algum modo, contribuíram para que muitos sonhos
fossem possíveis. Muito obrigada!
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