quinta-feira, 29 de agosto de 2019


Quantos Sonhos Cabem em uma Década?


Júlia dos Anjos Costa
(Mestranda em Crítica Cultural/UNEB, turma 2018.1)


Desde criança eu sempre soube que Comunicação seria minha área e jornalismo minha profissão. Idas e vindas da vida, ingressei no curso de Publicidade e Propaganda com bolsa integral do ProUni, na cidade de Feira de Santana, em 2007. Foram anos de percurso diário no trecho Feira x Alagoinhas que me causavam não só o desgaste físico e mental, mas principalmente testavam a força de vontade de uma recém adulta que buscava a realização de um sonho. Posteriormente, me mudei para Feira no intuito de concluir os estudos e construir uma carreira na área. Experiências vividas, conhecimento adquirido, diploma conquistado em 2011: reviravoltas que independiam da minha vontade me fizeram retornar para Alagoinhas em 2013.

De volta à minha terra, deparei-me com as adversidades de uma cidade do interior que ainda engatinhava vagarosamente na comunicação. A ausência de recursos e oportunidades de trabalho me fizeram acreditar, por muito tempo, que tanto investimento material e emocional na graduação foi em vão. Buscando meios de sobreviver, me aventurei como professora de reforço escolar para crianças e adolescentes durante quatro anos, dividindo-me entre a prestação de serviços como instrutora no Senai. Foi aí que me descobri professora e entendi qual seria verdadeiramente minha profissão.

Em 2017, Fabiane Guimarães, uma amiga de longa data de Feira de Santana foi aprovada no Pós-Crítica e imediatamente se tornou companheira de discussões sociais, políticas e filosóficas do café da manhã até altas madrugadas. Dividimos o mesmo teto por dois anos, sendo a responsável por me mostrar que, assim como ela, eu também poderia ingressar no mestrado, pois o curso, em suas palavras “tinha tudo a ver comigo”. Meio desacreditada da conquista e sem me julgar capaz de alcançá-la, me inscrevi como aluna especial na disciplina Tradição Oral e Cultura Popular, com Katharina Doring. Não acreditei quando o resultado foi divulgado, até finalmente me dar conta que a possibilidade de cursar um mestrado na UNEB era real. No semestre seguinte, me inscrevi em outra disciplina, desta vez Linguagens e Sala de aula, com Nazaré Lima e Lícia Maria. Me senti cada vez mais encorajada por elas, por minha amiga e pelos colegas, a tentar a seleção de aluno regular no fim do mesmo ano, paralelamente à conclusão da disciplina.

O longo e árduo processo, iniciado já na construção do projeto exigido para inscrição, me mostrou, desde o início, que o caminho não seria fácil. Nos dois últimos meses do ano, a ansiedade me dominava de tal modo que adoeci, não conseguia comer e emagreci drasticamente. Conseguir ser aprovada na seleção após seis anos de conclusão da graduação não era somente questão de vontade, era questão de ter a chance de um recomeço após anos de autodepreciação e descrença profissional.

Quando o resultado foi divulgado, em meados de dezembro de 2017, milagrosamente as dores de estômago e falta de ar constantes sumiram. Nenhum médico foi capaz de diagnosticar que meu problema era ânsia de viver tudo que eu queria, que eu podia e que eu merecia. Ingressei oficialmente na turma de 2018.1 e atualmente vivo outro processo, ansiosa pela conclusão do curso, principalmente no contexto político, social e econômico que estamos vivendo, rodeados de ignorância e opressão que eu, aos 31 anos, nunca imaginei que veria de perto.

Mais do que um curso de mestrado no interior da Bahia, o Pós-Crítica mudou significativamente minha trajetória de vida, não somente pelo incomensurável aprendizado, elevação do pensamento crítico e por ter me aproximado do feminismo com toda insurgência que sempre carreguei. Cursar o mestrado me mudou, principalmente pelas relações humanas construídas e toda transformação que estas possibilitaram. Porque de nada adianta alcançar níveis intelectuais julgados como excelentes e admiráveis, ter um Lattes recheado de publicações e congressos, títulos e mais títulos acadêmicos se esquecermos que a vida é feita da matéria humana, é feita de gente. E o aprendizado que cada indivíduo nos provoca (e que nós provocamos), independente de ter nos feito mal ou bem, nenhum diploma pode oferecer.

Em 2007 entrei na graduação. Em 2017, comecei a caminhar no Pós-Crítica. Respondendo a pergunta inicial “quantos sonhos cabem em uma década?”, respondo: parei de contar quando aprendi que somos feitos de ciclos intermináveis, onde muitas vezes temos que mudar de rumo e construir novos sonhos. Às vezes sozinhos, às vezes ao lado de pessoas que incentivam, acreditam e torcem por nós.

Posso parabenizar o Pós-Crítica pelos 10 anos de existência? Posso. Mas prefiro agradecer aos colegxs, amigxs, professorxs, orientadora, funcionárixs, alunxs do tirocínio e demais pessoas envolvidas que direta ou indiretamente cruzaram meu caminho e, de algum modo, contribuíram para que muitos sonhos fossem possíveis. Muito obrigada!


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